Quando eu era criança levei um golpe de uma pequena foice, no dedo indicador da mão esquerda. O ferimento ficou dolorido por muitos dias. A todo momento, eu batia com o dedo e via estrelas. Era terrível. Com o passar do tempo, contudo, o meu indicador ficou sarado. Hoje não há mais perigo de eu sentir qualquer dor por causa daquele golpe. A marca no meu dedo, entretanto, continua; e cada vez que olho para ela me lembro dessa travessura infantil. Eu não esqueci, mas a dor passou. Perdoar é exatamente assim: é poder olhar para a ofensa, sem se sentir magoado, poder lembrar da história sem sofrer. Não podemos apagar a história, mas podemos virar a página suja e cheia de borrões e escrever uma nova página, com novas ações, dirigidas pelo Senhor e onde é possível produzir uma nova história..
Perdoar é estender a mão ao inimigo, encurtando a distância da ofensa na trilha da misericórdia, firmado no amor de Jesus, na tentativa de ver a tempestade transformada em uma grande amizade. É tirar o foco da confusão para a comunhão; substituir o desencontro pelo reencontro; trocar revolta que motiva a vingança pela realização que permite a ajuda; é deixar de olhar para mim mesmo e olhar Jesus. Perdoar não é necessariamente esquecer a ofensa, mas poder lembrar-se dela sem se sentir ofendido e sem o desejo de ofender; é poder olhar o ferimento que o outro causou e constatar que está completamente cicatrizado.
(Jilton MORAES. Ilustrações e poemas para diferentes ocasiões).
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