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quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Bispo Ximenes, da Igreja Episcopal Carismática, fala ao Genizah

Para esta edição 20 de Genizah Almanaque entrevistamos o Revmo. Bispo Alexandre Ximenes.


Ximenes possui 40 anos de ministério pastoral. Pregador consagrado, conferencista, atua hoje como bispo diocesano da Igreja Episcopal Carismática do Brasil, servindo em Recife – Pernambuco, e também no estado de Alagoas. Complementarmente, o bispo é ainda reitor do SETEC, Seminário Teológico da Igreja Episcopal Carismática.
Ximenes avalia os rumos da igreja brasileira e alerta para os riscos da adoção do materialismo pragmático pelas lideranças evangélicas. A justificação dos meios pela praticidade dos fins tem afetado a mensagem e as raízes comunitárias. Ximenes aponta ainda os erros da ditadura dos números e da mercantilização das relações e acredita em um cenário crescentemente favorável para a igreja reformada sacramental e litúrgica.


Carlos Moreira por Genizah - A sociedade pós-moderna, construída sob os pilares da ciência e da tecnologia, tem sido marcada por um fenômeno social conhecido como “a sociedade da conveniência”. Em sua opinião, este fenômeno chegou também à igreja? As pessoas hoje estão vivendo um cristianismo de conveniências?

Bispo Ximenes - Lamentavelmente, a Igreja importou do “sistema” o utilitarismo. A grande maioria das comunidades Cristãs tem vivido um Materialismo sem precedentes, não o dialético, necessariamente, mas um materialismo pragmático. O pior é que, a reboque, tal estilo de vida trás justificação dos meios pela praticidade dos fins. Desde que dê certo, é certo! Hoje, infelizmente, as raízes comunitárias estão sendo desprezadas. As pessoas freqüentam uma congregação por dia, desde que tenham “respostas” ao que procuram. O absoluto que cresce a cada dia é o “sentir-se bem”. Pouco importa o que se ensina ou o que se vive, desde que a pessoa sinta-se bem. Coisas da Pós-Modernidade...

Genizah - Nas últimas décadas, o pós-pentecostalismo (também chamado de néo-pentecostalismo) dominou a “cena” religiosa evangélica em nosso país. Sabemos que o Sr. tem um ministério de mais de 3 décadas como pastor, pregador e conferencista. O que mudou na eclesiologia protestante neste período?

Bispo Ximenes - Sempre observei e preguei que a Igreja corre o sério risco de importar os padrões de governo da sociedade onde está inserida. Os anos 1970, por exemplo, foram ricos no surgimento dos “ditadores” evangélicos. A Igreja repetia no “micro-universo” o que acontecia no “macro”. Tornou-se uma espécie de sistema vigente em escala reduzida, uma miniatura. Claro, houve lindas e benditas exceções! Hoje, refletindo o pragmatismo vigente, a eclesiologia está a cada dia mais voltada para os fins, para o ponto de chegada. Penso que a dimensão Protestante, no sentido real da palavra, está cada dia menor. Não falo do aspecto Protestante relativo à constante repetição dos postulados da Reforma do Século XVI, mas, da capacidade de indignar-se, confrontar, denunciar, enfim, PROTESTAR de forma consciente e baseada em princípios Bíblicos. Hoje, quando se fala em Protestantes, enxerga-se muito mais uma abordagem histórica ou de quase “canonização” dos Reformadores e, muito menos, o enfrentamento do mal, seja ele estrutural ou circunstancial.


A grande maioria das comunidades Cristãs tem vivido um Materialismo sem precedentes, não o dialético, necessariamente, mas um materialismo pragmático. O pior é que, a reboque, tal estilo de vida trás justificação dos meios pela praticidade dos fins. Desde que dê certo, é certo!


Muitos teólogos têm afirmado que as igrejas se tornaram um negócio. Como o Sr. vê toda essa “pirotecnia” (cantores gospel, cultos de catarse, exorcismos, “milagres”) nas celebrações de muitas denominações e isto com vistas a atrair o “crente-cliente” para o seu “curral”?

Se não fosse trágico, seria cômico. A Igreja hoje é um mercado. Com todas as características do mesmo. Impera a Lei da “Oferta e da Procura”. Pregadores cobrando por sermões. O termo “cachê” vem agora sendo usado de forma rotineira. O Evangelho oferecido como produto, coisa, mercadoria. Embora naquilo que chamam com febre altíssima de “doutrina”, não aconteça, na prática, na vivencia do dia a dia, é o que se vê, lamentavelmente. Ouço falar de Igrejas que parcelam dízimo, facilitam no cartão de crédito, reduzem a percentagem do mesmo, enfim, um “venha para cá e tenha mais facilidades”. Crente hoje é cliente! Um jovem me disse a poucos dias que já não existem mais congregações, mas, franquias.

Por que não ouvimos mais mensagens falando da Cruz, do negar-se a si mesmo, da perseverança. Hoje, o que vemos é que a auto-ajuda entrou na igreja disfarçada de doutrina. Com isso, a congregação ouve o que deseja ouvir e não o que precisa ouvir. O que o Sr. tem a comentar?

Creio que é, mais uma vez, a idolatria da estatística. Números divinizados! Jesus de Nazaré seria um fracasso dentro desta ótica. Investiu a vida em um pequeno grupo, não deixou um metro de construção, etc. Diante disto, pergunto: quem quer negar-se a si mesmo? Quem quer um Evangelho de Cruz? Hoje vemos o “evangelho” do “tapete vermelho”, dos “tronos”, etc. O que tem importado a muitos pregadores e líderes é o “IBOPE”. Desculpe-me, mas, Gente assim, deveria ser alvo do BOPE (Batalhão de Operações Especiais da PM). Algum tempo atrás, um pastor sério me fez a seguinte pergunta: “será que somos bobos?”. Isto posto diante do crescimento deste “evangelho” de dividendos, de conveniências. Eis aí um nome duro, mas que pode ser aplicado em muitos casos: Igreja de Conveniência. Você para, compra, põe no bolso (mente) e vai embora.


É a idolatria da estatística. Números divinizados! Jesus de Nazaré seria um fracasso dentro desta ótica.


Nas últimas décadas temos visto várias práticas empresariais serem utilizadas nas igrejas como, por exemplo, metas a serem alcançadas quanto à multiplicação de fieis engajados em pequenos grupos. O que o Sr. acha deste tipo de prática?


Gosto dos pequenos grupos. Um homem de Deus, há anos, me disse: “quem não está num pequeno grupo não está na Igreja”. Falava dos grupos formados por afinidades, gostos comuns, etc. No entanto, isso não pode ser confundido com um sistema voltado apenas para a multiplicação. Como experiência de comunhão, sim. O Ministério Pastoral tornou-se gerencial, executivo e empresarial. Precisamos com urgência voltar ao Ministério Pessoal, Devocional e Pastoral no sentido exato do termo. Num modus vivendi empresarial, quem irá valorizar, por exemplo, um membro com 90 anos de idade, desamparado, pobre e doente? Ora, ele já não é “produtivo” ou “útil” para o “Sistema Religioso”, tenha ele, o sistema, o rótulo que tiver.


Como bispo de uma diocese da Igreja Episcopal Carismática do Brasil, ramo do protestantismo reformado da Igreja de Jesus Cristo, como o Sr. analisa a percepção da sociedade quanto a uma igreja sacramental e litúrgica nos dias atuais?

Hoje há uma espécie de “ressaca” no mundo cristão. Depois das “experiências” e aventuras, há um desejo de retorno, de volta às origens. E, graças a Deus, esta visão tem se alastrado. A Igreja Episcopal, como qualquer uma em qualquer época, tem suas virtudes e equívocos, mas, ela tem sido inclusiva, acolhedora, misericordiosa e graciosa. Temos sofrido críticas por isso. As pessoas brigam com unhas e dentes pela Teologia da Graça, mas ficam incomodadas quando essa visão é praticada. A IEC tem procurado viver a verdade dos Fundamentos sem abrir mão da leitura do mundo atual. Assim, ela tem uma Liturgia (que não engessa, imobiliza), uma visão Sacramental das Ordenanças (meios de graça), uma consciência dos Carismas e um ardor pela Evangelização, não como catequese ou conquista, mas, como Boa Notícia para um mundo cansado, até mesmo da religião.

Quais são os seus planos ministeriais para os próximos anos? Em que projetos o Sr. está envolvido?

Quero, neste final, dizer que o que foi dito por mim, foi em amor incontrolável pela Igreja do Senhor Jesus Cristo. Há 39 anos que conheço a Igreja. Devo minha vida e ministério à gente boa dessa Igreja verdadeira que ministrou graça sobre mim, me suportou em anos difíceis e, nunca, a exemplo do Senhor Jesus Cristo, desistiu de mim. Portanto, a Igreja Viva está por aí, até mesmo no meio do “sistema religioso” (seja ele qual for). Hoje, quando antevejo o ocaso da vida, rogo a Deus que me faça fiel ao chamado. Jamais abdicarei da esperança. O amanhã, realmente, a Deus pertence. Como também o hoje. Minhas raízes são fundamentadas na vontade do Pai Celestial. Quero estar onde ELE onde quer que eu esteja. Na Igreja Episcopal, a qual amo, desenvolvo hoje o meu Episcopado na Zona Sul do Recife e Estado de Alagoas e sou Reitor do Seminário Teológico Episcopal Carismático, o SETEC. Um dos meus sonhos ministeriais é ter um local apropriado para investir na restauração de pastores feridos nas “batalhas da vida”. Gente querida que foi machucada na caminhada. Ver esses homens restaurados é um dos projetos que ainda espero realizar. Recebo muitos deles em meu Gabinete Pastoral, e, de muitas denominações. Buscam graça, misericórdia e acolhimento. Precisam de um tempo de descanso, reflexão e oração. Espero que um dia, Deus, se assim for a Sua vontade, me propicie este local, uma espécie de “Vale do Perdão”.


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