É comum vermos teólogos, ao tratar dos atributos divinos, classificar a justiça separadamente da ira. Ira, para alguns deles, é distinta de justiça. Não vejo razão para essa distinção, porque a ira é o aspecto da sua justiça que trata da retribuição aos ímpios.
Nunca a sua ira tem a ver com a justiça remunerativa, que recompensa os justos, nem ela vem sobre aqueles por quem Jesus Cristo morreu. A ira é uma manifestação da vingança divina contra os violadores da sua Palavra e para os quais não há a manifestação da sua misericórdia.
Porque Deus é santo, ele não pode deixar de punir o pecado. Essa punição é vista na Bíblia como Deus derramando a sua ira contra os pecadores. Esse é um tema que costuma causar mal-estar a muitos crentes, por causa das suas falsas concepções sobre Deus.
É lamentável ver na igreja pessoas tentando desculpar Deus por ele mostrar a sua ira, como se isso fosse falha do seu caráter. Elas confundem a ira de Deus com os seus próprios sentimentos pecaminosos. Deus é santo legislador e tem toda a razão de mostrar o seu desprazer para com o pecado.
As Escrituras não escondem essa faceta de Deus. A realidade da ira de Deus é algo dominante nas Escrituras. O próprio Deus não se envergonha de proclamar a sua vingança e o furor que lhe pertencem (Dt 32.39-43; Êx 22.23-24; Nm 11.1, 10, 32-33; Rm 1.18). Se consultarmos uma boa chave bíblica veremos que há muito mais referência ao nojo, ao furor e à ira de Deus contra o pecado do que ao seu amor e à sua misericórdia. Ele odeia todo pecado porque é santo; e porque odeia, o seu furor se acende (Sl 7.11).
Muitos homens questionam o fato de Deus mostrar a sua ira, achando que isso é injustiça, ou que não condiz com o seu caráter. Paulo, falando como homem, diz: "Porventura será Deus injusto por aplicar a sua ira?... Certo que não. Do contrário, como julgará Deus o mundo?" (Rm 3.5-6).
Se Deus deixar de mostrar a sua ira, ele será injusto consigo mesmo (porque negará a sua própria santidade) e com os homens (porque não dará a eles o que merecem). Se Deus deixar de mostrar a sua ira, ele mostrará falta de caráter moral, porque a indiferença para com o pecado é uma falta moral. Como poderia Deus, que é a soma de todas as excelências, olhar com igual satisfação o bem e o mal, o certo e o errado, a sabedoria e a loucura? Como poderia Ele , que é infinitamente santo, odiar o pecado e, no entanto, recusar mostrar a sua ira? (Rm 9.22) - a própria natureza de Deus faz do inferno uma necessidade real, um requisito tão imperativo e eterno, como é o caso com a bem-aventurança eterna.
A ira de Deus é o seu eterno aborrecimento contra toda injustiça; é o desagrado e a indignação da retidão divina ante o mal; é a santidade de Deus posta em ação contra o pecado; é a causa motriz da sentença justa que Deus pronuncia contra os que obram o mal; é a manifestação do seu desagrado, porque o pecado é uma rebelião contra a sua autoridade, um ultraje cometido contra a sua soberania inviolável; não é uma vingança maligna, pecaminosa como a nossa, mas é a vindicação do seu domínio como Governador do universo.
A ira de Deus é uma das suas perfeições, não só pelo que já mencionamos, mas porque as Escrituras nos autorizam a dizer isso: "A ira de Deus se revela dos céus contra toda a impiedade e perversão dos homens que detém a verdade pela injustiça" (Rm 1.18). Ela se manifestou quando foi pronunciada a primeira sentença de morte, quando a terra foi amaldiçoada e o homem expulso do Paraíso, depois no Dilúvio, na destruição de Sodoma e Gomorra, na sua maior força quando da vinda do Filho do Homem. Então, Deus será o vingador dos crimes dos homens. Além disso, o castigo futuro e eterno dos ímpios está declarado nas Escrituras em termos terrivelmente explícitos. O Próprio gentil Cordeiro de Deus manifestará a sua ira no final dos tempos (AP 6.16-17)
Retirado do Livro: O Ser de Deus- E os seus atributos , Pág.: 348
Heber Carlos de Campos - Editora Cultura Cristã
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