O QUE SIGNIFICA CORAM DEO?
R. C. Sproul
Tradução: Airton Williams
Lembro-me de mamãe parada na minha frente, suas mãos apoiadas
em seus quadris, seus olhos brilhando como brasas de fogo e dizendo em tons
extremamente fortes: “Qual é a grande ideia jovem?”.
Instintivamente eu sabia que minha mãe não estava me fazendo
uma pergunta abstrata sobre teoria. Sua pergunta não era, em absoluto, uma
questão – era uma acusação disfarçada. Suas palavras eram facilmente traduzidas
com o sentido: "Por que você está fazendo o que está fazendo?”. Ela estava
me desafiando a justificar meu comportamento com uma ideia válida. Eu não tinha
nenhuma.
Recentemente um amigo me perguntou com toda seriedade a mesma
questão. Ele perguntou: "Qual é a grande ideia da vida cristã?" Ele
estava interessado no objetivo supremo e final da vida cristã.
Para responder a sua pergunta, recusei-me à prerrogativa do
teólogo e lhe dei um termo latino. Eu disse: "A grande ideia da vida
cristã é coram Deo. Coram Deo capta a essência da vida cristã”.
Esta frase refere-se, literalmente, a algo que ocorre na
presença de, ou diante da face de Deus. Viver Coram Deo é viver a vida inteira
na presença de Deus, sob a autoridade de Deus, para a glória de Deus.
Coram Deo é viver a vida inteira na
presença de Deus, sob a
autoridade de Deus, para a glória de Deus.
Viver na presença de Deus é compreender que o que quer que
estejamos fazendo e onde quer que o façamos, estamos agindo sob o olhar de
Deus. Deus é onipresente. Não há lugar tão remoto que possamos escapar de Seu
olhar penetrante.
Estar ciente da presença de Deus é também ser agudamente
consciente de Sua soberania. A experiência uniforme dos santos é reconhecer que
se Deus é Deus, então Ele é, de fato, soberano. Quando Saulo foi confrontado
com a glória refulgente do Cristo ressuscitado no caminho de Damasco, sua
pergunta imediata foi: "Quem é, Senhor?" Ele não tinha certeza de
quem estava falando com ele, mas sabia que quem quer que fosse, era certamente
soberano sobre ele.
Viver sob a soberania divina envolve mais do que uma
submissão relutante à absoluta soberania que é motivada por um medo de punição.
Envolve reconhecer que não há objetivo mais elevado do que oferecer honra a
Deus. Nossas vidas devem ser sacrifícios vivos, oblações oferecidas em espírito
de adoração e gratidão.
Viver toda a vida Coram Deo é viver uma vida de integridade.
É uma vida de totalidade que encontra a sua unidade e coerência na majestade de
Deus. Uma vida fragmentada é uma vida de desintegração. É marcado pela
inconsistência, desarmonia, confusão, conflito, contradição e caos.
O cristão que compartimentaliza sua vida em duas seções, a do
religioso e a do não-religioso, falhou entender a grande ideia. A grande ideia
é que toda a vida é religiosa ou nada na vida é religioso. Dividir a vida entre
o religioso e o não-religioso é, em si, um sacrilégio.
Isto significa que se uma pessoa cumpre a sua vocação como
siderúrgico, advogado ou dona de casa coram Deo, então essa pessoa está agindo
tão religiosamente quanto um evangelista que ganha almas que cumpre sua
vocação. Isso significa que Davi era tão religioso quando obedeceu ao chamado
de Deus para ser um pastor como ele era quando foi ungido com a graça especial
da realeza. Significa que Jesus era tão religioso quando trabalhava na oficina
carpintaria de seu pai como Ele era no Jardim do Getsêmani.
Integridade é encontrada onde homens e mulheres vivem suas
vidas em um padrão de consistência. É um padrão que funciona da mesma maneira
básica na igreja e fora da igreja. É uma vida que está aberta diante de Deus. É
uma vida em que tudo o que é feito é feito como para o Senhor. É uma vida
vivida pelo princípio, não pela conveniência; pela humildade diante de Deus,
não por um desafio. É uma vida vivida sob a tutela da consciência que é mantida
cativa pela Palavra de Deus.
Coram Deo ... diante da face de Deus. Essa é a grande ideia.
Ao lado dessa ideia, nossos outros objetivos e ambições se tornam meras
bagatelas.
Para estudo das Escrituras: Mateus 24:13; Romanos 8: 31-36; 2
Coríntios 4: 7-16; Hebreus 6: 9-12; 10: 35-39.
http://www.ligonier.org/blog/what-does-coram-deo-mean/
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