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sexta-feira, 30 de outubro de 2009

REGENERAÇÃO E O ESPÍRITO SANTO

"PRECISA NASCER DE NOVO". Esta palavra de nosso Senhor Jesus parece ter brilhado como chama no caminho de muitos, tal como a espada ígnea dos querubins nas portas do paraíso. Eles sentiram-se cair no desespero de que tal mudança é demais para seus profundos esforços. O novo nascimento é de cima e, portanto, escapa ao poder da criatura. Agora está longe do meu propósito negar ou até mesmo ocultar uma verdade como esta a fim de criar um falso conforto. Eu admito sem dissimulação que o novo nascimento é sobrenatural e não pode jamais ser operado pelo esforço pessoal do pecador. Seria um auxílio, um pobre auxílio ao meu leitor se eu fosse tão iníquo que tentasse animá-lo, procurando persuadi-lo a rejeitar ou esquecer uma verdade inegável.
Mas não é admirável, entretanto, que no mesmo capítulo em que o nosso Senhor fez esta declaração radical, contenha também a mais explícita exposição a respeito da salvação pela fé? Leia o terceiro capítulo do Evangelho de João completamente, e nao se demore só nas suas primeiras sentenças. É verdade que o terceiro verso diz assim: "Jesus responde-lhe: em verdade, em verdade, te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus."
Mas, no décimo quarto e no décimo quinto versos, fala-nos da seguinte maneira: "do mesmo modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado, para que todo que nele crê tenha a vida eterna."
E no décimo oitavo verso repete a mesma deliciosa doutrina em termos mais amplos: "Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus."
Deve ser perfeitamente claro a todo leitor que estas duas declarações devem concordar, uma vez que vieram dos mesmos lábios e estão na mesma página inspirada. Por que poríamos nós dificuldade onde não há nenhuma? Se uma declaração não assegura a necessidade de uma salvação de uma espécie que só o Senhor pode dar, e se outra nos assegura que o Senhor nos salva sob a nossa crença em Jesus, então devemos concluir com toda segurança que o Senhor dará aos que creem tudo aquilo que se declarou antes de ser necessário à Salvação. O Senhor, de fato, produz o novo nascimento em todo aquele que crê em Jesus, e a sua fé é a mais segura evidência de que eles nasceram de novo. Confiamos em Jesus por aquilo que não podemos fazer de nós mesmos: se isso estivesse em nosso poder, que necessidade haveria de olharmos para Ele? A nós pertence o crer, ao Senhor, o criar-nos de novo. Ele não vai crer por nós, nem nós faremos a obra da regeneração por Ele. A nós, basta obedecer ao seu gracioso mandamento, e a ele, operar em nós o novo nascimento. Aquele que foi até o ponto de morrer por nós na cruz poderá dar-nos e vai nos dar todas as coisas que são necessárias para nossa segurança eterna.
"Mas a transformação salvadora do coração é obra do Espírito Santo". Isto é também muito verdadeiro, e longe esteja de nós duvidar, ou esquecer. Mas a obra do Espírito Santo é secreta e misteriosa. Há mistérios também a respeito do nosso nascimento natural, cuja pesquisa seria uma curiosidade profanadora: ainda mais neste caso relativo às sagradas operações do Espírito de Deus. "O vento sopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito". Isto, entretanto, nós sabemos: a obra misteriosa do Espírito Santo não é uma razão para que recusemos crer em Jesus de quem o mesmo espírito dá testemunho.
Se um homem fosse chamado a semear um campo, ele não poderia desculpar a sua negligência dizendo que seria inútil semeá-lo sem que Deus fizesse crescer a semente. Ele não seria justificado pela sua negligência de arar, porque só as secretas energias de Deus podem criar uma seara. Ninguém é impédido de prosseguir nos empreendimentos ordinários da vida pelo conhecimento que tem de que: "Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam". O certo é que nenhum homem que crê em Jesus verá jamais que o Espírito Santo se recusa a operar nele: de fato, o crer nele é a prova de que o Espírito já está operando em seu coração. Deus obra pela sua providência, mas nem por isso o homem deve ficar inativo. Eles não poderiam mover-se sem o poder divino que lhes dá vida e força; no entanto, eles prosseguem com os seus trabalhos sem questionar, recebendo o poder dia após dia das mãos daqueles de quem depende a sua própria respiração e todos os seus caminhos. Assim é também em relação à graça. Arrependemo-nos e cremos, embora nem uma nem outra coisa possamos fazer se o Senhor não nos capacitar. Deixamos o pecado e confiamos em Jesus, e então percebemos que foi o Senhor quem operou em nós o querer e o efetuar, segundo o seu beneplácito. É ocioso insistir que haja alguma dificuldade real neste assunto.
Algumas das verdades difíceis de explicar em palavras são bastante simples na experiência comum. Nenhuma divergência há entre a verdade que assevera que o pecador crê e aquele que diz que a fé é operada nele pelo Espírito Santo. Só a loucura pode levar os homens a se perturbarem a respeito de questões tão claras quando as suas almas estão em perigo. Nenhum homem se recusaria a entrar em um barco salva-vidas por não conhecer o peso específico dos corpos. Nenhum homem faminto deixaria de comer até que entendesse todo o processo da nutrição. Se você, meu leitor, não crer até que possa entender todos os mistérios, nunca será salvo. Se permitir que alguma dificuldade que você mesmo inventa impeça que aceite o perdão que se oferece por meio do Senhor e salvador Jesus, perecerá por uma condenação que opulentamente merecerá. Não cometas um suicídios espiritual pela fútil paixão de discutir sutilezas metaficas.

Texto retirado do livro "TUDO PELA GRAÇA". Charles H Spurgeon, editora Novo Século.

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