O EVANGELHO INDIGESTO
O mundo tem convivido com um arquétipo de evangelho facilmente digerido por qualquer pessoa que se esbarra com ele. Esta fácil digestão de um evangelho cada vez mais assimilado pela sociedade tem sido oferecido em diferentes roupagens ou com diferentes apetrechos para ser facilmente adaptável à cultura e aos gostos de cada pessoa.
Quando o evangelho se torna um evangelho de vitrine, com enfeites para atrair e chamar a atenção dos compradores, ele se torna moda, pois todos procuram adquirir o evangelho de acordo com o seu manequim. E como toda moda, o evangelho de vitrine, logo se tornará obsoleto.
Evangelho de mídia, evangelho de vitrine, evangelho de evangélicos, evangelho personificado, evangelho de etiqueta, evangelho de movimentos, evangelho de confinamentos, evangelho de eventos, evangelho de usos e costumes, evangelho de prosperidade, evangelho da libertação dos pobres, evangelho da palavra positiva, evangelho da minoria, evangelho do cristianismo, evangelho de reticencias e etc. Em tudo isso, ou seja, em todas estas configurações de evangelhos, percebe-se o grande esforço e versatilidade do homem em querer fazer com o que o evangelho seja de fácil digestão intelectual, emocional, social, politica e espiritual.
A igreja tem sido a principal responsável ou gestora desta mutação nutricional do evangelho para torná-lo digerido por todos! A igreja se torna o ethos social com a responsabilidade de fazer os arranjos sociais necessários para que o evangelho se torne popular!
Podemos citar alguns destes arranjos sociais nos seguintes exemplos:
1) a mídia televisiva, impressa e radiofônica, percebeu que a promoção de tudo aquilo que é religioso e evangélico dá dinheiro, que se traduz em poder e que, por conseguinte, atrai multidões, aumentando os índices de venda e audiência. O evangelho produto capitalista se tornou assunto de estrategistas de marketing.
2) As gravadoras de músicas correm atrás dos cantores e cantoras gospel! Os irmãos cantores se tornaram artistas e celebridades gospel! Selos de gravadoras de expressão! Agentes que intermediam as apresentações destes artistas gospel em programas de tv, rádios, shows e tantos outros eventos de caráter lucrativo.
3) No âmbito político, existe uma avacalhação com a ética de um evangelho cada vez mais desprovido de justiça social e humana, e tudo isso protagonizado por políticos da bancada evangélica, que teimam em continuar mamando na teta da vaca do Estado! Pois estes políticos transformaram o evangelho em bem público para poderem manuseá-lo como arma de barganha de votos. Eles só conhecem o evangelho do voto! Evangelho da urna!
4) Nos corredores acadêmicos e esferas da intelectualidade o evangelho ocupa o lugar da dúvida. É apenas uma variável utilizada para cruzar com outras variáveis que vão produzir uma determinada correlação para confirmar ainda mais teorias preconceituosas. O evangelho na academia não consegue nada mais e nada menos do que ser usado para formar mestres e doutores que depois de elaborarem suas dissertações e teses, não conseguem mais ver outro evangelho que não seja este que se tornou objeto de especulação teológica e religiosa. Precisam de divagações sobre este evangelho para se manterem no topo da vida acadêmica.
5) No espectro religioso, o evangelho tem sido turbinado para produzir um mover de multidões! Manipulações de massas! Bruxismo evangélico! Um evangelho de benzeduras onde os ecos do passado místico brasileiro aflora nos ajuntamentos dentro dos templos. Cultos sincréticos com passes, macumba, espiritismo, curandeirismo e esoterismo. A palavra de ordem é: mistificar o evangelho para um povo místico!
A igreja se tornou o remédio que facilita a digestão de um evangelho cada vez mais digerido e palatável!
O que verdadeiramente não quer calar é porque esta digestão do evangelho não tem provocado mudanças profundas tais como: JUSTIÇA, PAZ, DIMINUIÇAO DA VIOLENCIA, BAIXO ÍNDICE NA CORRUPÇAO, RESGATE DA POPULAÇAO DOS VICIOS NAS DROGAS, APEGO À ÉTICA, HUMANIZAÇÃO DA DESUMANIDADE, ENFRAQUECIMENTO DA RELIGIOSIDADE EXTERNA E INTERNA NA SOCIEDADE E NO INDIVÍDUO.
A digestão de um evangelho desprovido de graça e simplicidade do reino e cristocêntrico produz uma falsa ideia de saciedade que faz com que o povo e a sociedade pensem que não precisam de mais nada e que o controle está em suas mãos. Na África temos crianças que aparentemente estão bem nutridas, mas, quando se faz os exames necessários, descobre-se que estão desnutridas. Elas comem amido o dia inteiro e todos os dias da semana. Fazem isso regularmente! Pseudo saciedade!
O evangelho é o verbo! O Evangelho é Cristo! Não existe evangelho dissociado da pessoa de Cristo! Cristo é intragável! Seus ensinos enfatizam o reino! Os valores e princípios do reino são indigestos quando se tem o primeiro contato com eles, mas depois, são palavras de vida eterna!
Cristo foi perseguido e morto por causa do reino que Ele pregava! Ele dizia que era rei de um reino! Ele afirmava que era Deus como o Pai! Ele asseverou que Ele e o Pai eram um! Ele ensinava o reino e praticava tudo o que Ele mesmo ensinava sobre o seu reino!
O mundo não quer digerir este evangelho do reino! Este evangelho do reino fala de exceder no perdão, arrependimento, amor, paz, graça, justiça, humildade, mansidão, doação, humanização e na multiforme sabedoria de Deus.
O Evangelho indigesto é profundo! É como espada que corta, que separa, que faz com que a conversão do pecador seja uma proposta de mudança contínua para o bem! O Evangelho indigesto lida com o pecado como algo integral envolvendo o somatos do homem por inteiro, afetando o seu corpo, sua alma e espirito, bem como, a natureza e ambiente no qual ele interage da infância à velhice. Este Evangelho indigesto resgata o sentimento de pertencimento do homem perdido em eleito encontrado e redirecionado ao caminho do reino de superabundante vida!
Este Evangelho indigesto só pode ser saboreado e perceptível por aqueles que possuem o Espirito Santo, pois sem Ele, não há gosto, não há degustação espiritual alguma! Se alguém não tem o Espirito de Deus não tem vida, se não tem vida então não consegue distinguir o que é digestível ou não!
Quem ama gente, quem vive para o bem do outro, quem deixa o Verbo reinar em sua vida, quem aprofunda as implicações do reino de Deus, quem se rende ao domínio de espaços pelo Espirito Santo, se alimenta do Evangelho indigesto! E é deste tipo de pessoas que o mundo precisa, e ouso afirmar que é deste tipo de cristãos que as igrejas mais sentem falta em nossos dias, a começar dos púlpitos!
Que Deus nos ajude!
Que haja mais evangelho da indigestão sendo causadores de uma santa indigestão no meio daqueles que caminham como regentes no reino de Deus!
Quero concluir sugerindo a audição da música “O EVANGELHO” do grupo Logos.
A letra diz assim:
Eu sinto verdadeiro espanto no meu coração
Em constatar que o evangelho já mudou.
Quem ontem era servo agora acha-se Senhor
E diz a Deus como Ele tem que ser ...
Mas o verdadeiro evangelho exalta a Deus
Ele é tão claro como a água que eu bebi
E não se negocia sua essência e poder
Se camuflado a excelência perderá!
O evangelho é que desvenda os nossos olhos
E desamarra todo nó que já se fez
Porém, ninguém será liberto, sem que clame
Arrependido aos pés de Cristo, o Rei dos reis.
O evangelho mostra o homem morto em seu pecar
Sem condições de levantar-se por si só ...
A menos que Jesus, que é justo, o arranque de onde está
E o justifique, e o apresente ao Pai.
Mostra ainda a justiça de um Deus
Que é bem maior que qualquer força ou ficção
Que não seria injusto se me deixasse perecer
Mas soberano em graça me escolheu
É por isso que não posso me esquecer
Sendo seu servo, não Lhe digo o que fazer
Determinando ou marcando hora para acontecer
O que Sua vontade mostrará.
De alguém que ora ao Senhor Jesus para ficar sempre com o evangelho indigesto,
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