CONHECENDO A JESUS PARA UM VIVER RENDIDO A DEUS E MOLDADO POR SUA
IMAGEM REVELADA EM CRISTO
Jesus: a plena revelação de Deus aos homens .
1. Antigamente, muitas vezes e de muitas formas, Deus falou aos pais,
pelos profetas. 2. Nos dias finais, nos falou no Filho
Em nossa última análise sobre o conhecimento de Jesus, tivemos a oportunidade de examinar a dinâmica do nosso conhecimento por meio do texto do evangelista Marcos, no bloco narrativo que compreende o capítulo 8.22 à 10.52. A partir da história de dois cegos, vimos como somos conduzidos, naquele texto, a entender nossa situação diante daquilo que declaramos saber sobre Jesus.
Voltando ao texto de Marcos, quando Jesus pergunta quem dizem os homens que sou eu?, é interessante observar as respostas: João Batista, Elias e algum dos profetas. O que estas respostas têm um comum? Todas apontam para o ofício profético de Cristo.
Naquela época, havia uma crença de que o messias esperado de Israel seria um profeta. Assim, neste sentido, as respostas não estavam erradas. Todavia, falhavam de forma grave quando compreendiam que este era todo o mistério que envolvia a pessoa do messias, tornando-o semelhante a qualquer outro grande profeta na história de Israel.
Observe que isto não é diferente do que costumamos ouvir nos dias atuais. Em várias religiões e crenças pessoais, Cristo não passa de uma espécie de profeta ou líder espiritual iluminado. Assim o vêem os muçulmanos, espíritas e as demais religiões, incluindo o próprio judaísmo atual.
Mas como dissemos, a expectativa profética não era de todo errada. Agora, por que esta expectativa profética em torno do messias? Primeiramente, isto estava ancorado nas profecias e teologia do Antigo Testamento que haviam determinado que um dos sinais de reconhecimento messiânico seria o ofício profético, conforme ensinara Moisés em Dt 18.15: “O Senhor teu Deus te suscitará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, semelhante a mim; a ele ouvirás.”
Mas creio que a razão principal da expectativa em torno do ofício profético pode ser vista na necessidade que os homens, em todas as eras, têm de ouvir uma clara direção de Deus para a sua vida. Isto se pode ver em todas as religiões por meio de seus videntes, profetas, adivinhos e afins. Observe que isto não é uma questão restrita a Israel e nem ao cristianismo. É da essência dos homens a sensação de estarem desorientados num mundo tão confuso, com tantas disparidades e complexidades, onde o bem e o mal não parecem coisas fáceis de se discernir. Disto, nasce a necessidade de alguém que fale com autoridade em nome de Deus e torne clara a verdade da vida.
Um exemplo claro disso temos em Mateus 7.28,29, quando após proferir o “Sermão do Monte”, o evangelista narra a reação das multidões que o ouviam, dizendo: “Quando Jesus acabou de proferir estas palavras, estavam as multidões maravilhadas da sua doutrina; porque ele ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas”.
É neste contexto de anseio por se ouvir a voz de Deus e sua clara orientação para a vida que surge a figura do profeta, alguém que fala em nome de e com autoridade de. Uma vez que esta figura é instituída pelo próprio Deus, entende-se que nada há de errado com o conceito e nem com a necessidade. E não somente as multidões que cercam Jesus nos evangelhos o vêem assim como assim também nos apresenta Jesus, inicialmente, o escritor de Hebreus. Segundo o escritor sagrado,
1. Jesus é a plena revelação de Deus aos homens.
• Ele não era sacerdote conforme a prescrição da lei judaica, pois: a) Jesus não pertencia a uma família de sacerdotes, nem mesmo à tribo selecionada para o serviço do culto; b) na série ascendente de separações rituais, Ele se encontrava no degrau mais baixo, o do povo.
• Seu ministério não era sacerdotal (no antigo sentido da palavra), sendo muito mais uma continuidade da ação dos profetas (proclamação da Palavra e anúncio da próxima intervenção divina).
• Jesus se colocou claramente na linha da tradição profética. Nos Evangelhos vemos sua ação contra a concepção ritual da religião: pouca importância às preocupações de pureza ritual (Mt 9.10-13; 15.1-20); recusa em valorizar de forma absoluta o preceito do repouso sagrado, o dia de Sábado, em detrimento do seu semelhante (Mt 12.1-13; Jô 5.16-18; 9.16); rejeição do antigo modo de santificação (compare Os 6.6 e o ensinamento de Jesus em Mt 9.13), que incluía afastamento e inclusão dos impuros, enquanto Cristo não somente ensinava como praticava o acolhimento dos piores tipos de pecadores considerados em sua época e sociedade (e.g. o bandido que estava ao seu lado na cruz e que foi perdoado segundo Lucas 23.39-43).
Assim, a vida e o ministério de Jesus tomaram um rumo totalmente diferente do que se esperava quanto ao sacerdócio. Como, então, insistir na idéia de que ele seria o messias esperado da redenção de Israel? De onde o cristianismo tirava esta conclusão que parecia tão absurda à luz das Escrituras?
Se compreendermos este ponto, a introdução do livro, cap. 1.1-4, se torna elucidativa para nós. Onde repousava a verdade sobre o sacerdócio messiânico? Qual a fonte de autoridade para descrição e afirmação do sacerdócio de Jesus?
Estas indagações levam o autor de Hebreus a iniciar sua obra com uma afirmação categórica: a plena revelação de Deus, seu Ser e Sua vontade, repousam no Filho.
Porém, é interessante observar como ele conduz a argumentação do texto para este ponto. Ao contrário de inúmeras religiões, e mesmo movimentos messiânicos dentro do judaísmo primitivo e neotestamentário, o escritor sagrado não parte para a conclusão da plenitude da revelação em Cristo Jesus a partir de alguma defesa mística ou personalista, como é próprio de tantas religiões.
No caso da revelação mística temos exemplos claros em várias religiões. Como ilustração, tomemos dois casos: o islamismo e o mormonismo. No primeiro caso, temos a experiência mística de Maomé no deserto que alega ter sido visitado por um anjo que lhe revelou a verdade sobre Allá. A partir daí, ele começa sua cruzada para evangelizar os povos árabes e, posteriormente, o mundo de infiéis (ou seja, todos aqueles que não concordavam com a revelação recebida e que o instituía como último profeta legítimo para o mundo).
No segundo caso, temos o mormonismo que também nasce de uma experiência mística de Joseph Smith, que por coincidência também tem um anjo que lhe revela a mensagem verdadeira de Deus que estava perdida. Tal mensagem da origem ao livro de Mórmons.
Em ambos os casos, uma experiência mística é determinante para o surgimento da religião e sua verdade. O problema é que tais experiências não podem ser atestadas de fato. E quando olhamos para seus profetas ficamos com sérias dúvidas da veracidade do que ensinaram por causa do tipo de vida que levaram, com graves pecados sexuais que foram redimidos a partir do novo ensinamento que os justificava.
Considerando a revelação que nasce do personalismo, podemos mencionar o budismo e a Seicho-no-ie. No primeiro caso, a fé budista não nasce de uma verdade descoberta numa experiência mística de Siddartha Gautama, Buda. Ela nasce de sua leitura e interpretação da vida que o cercava. Seu sucesso posterior depende do seu personalismo, ou seja, da imagem que ele comunicava às pessoas e seus seguidores posteriores, cercada de um enlevo espiritual. Sua personalidade foi a chave de sua religião.
A mesma coisa se pode dizer do surgimento da Seicho-no-ie, cuja figura central é Masaharu Taniguchi, descrito por seus seguidores como um homem de profundo amor e compaixão pela humanidade. Nisto já se percebe a força de sua personalidade e a razão da verdade repousar em seus ensinamentos.
A revelação plena de Deus em Cristo não está ancorada em alguma experiência mística experimentada por Jesus que o tenho levado a algum tipo de entendimento de ser ele algum ser especialmente chamado para uma missão; também não está ancorada no personalismo de sua santidade, piedade e sabedoria. Ou seja, para o escritor de Hebreus a resposta sobre a verdade em torno do sacerdócio e do messianismo não encontram resposta em Jesus por ser ele Jesus, mas porque ele é o ponto final, pleno e suficiente de um processo histórico salvífico de revelação iniciado muito antes dele mesmo, Jesus. Daí porque o escritor sagrado diz: “antigamente Deus falou...”
Desde o início de sua criação, o Senhor já falava direcionando tudo para o seu Filho bendito, e assim, a verdade que se encontra em Jesus não dependia de provas místicas nem mesmo de uma personalidade forte e convincente. Bastava olhar para o registro da revelação que vinha desde o Antigo Testamento até encontrar em Cristo sua plena revelação. É por isso que após a ressurreição, o Senhor Jesus passou a mostrar, claramente, como toda a Escritura (ou seja, o Antigo Testamento naquele momento), dava testemunho dele (Lc 24.32;44).
Na construção de seu argumento para estabelecer que Jesus é a revelação final, plena e suficiente de Deus aos homens, estando nele toda a verdade sobre todas as coisas, inclusive o ponto de entendimento do seu próprio sacerdócio, o escritor de Hebreus traça uma linha consistente com várias teses. Assim, examinemos cada uma delas a partir da próxima exposição.
Airton Williams
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