A DOUTRINA DA GRAÇA E A PREDESTINAÇÃO
Lutero entendeu o conceito de graça no seu sentido literal. Para ele significava o favor de Deus ou amor de Deus ativo em benefício da salvação do homem. Diversamente dos escolásticos, não concebia a graça como qualidade infusa que elevava a bondade natural do homem a um nível sobrenatural e facilitava a prática das virtudes. O homem nada mais é que pecado, e inimizade contra Deus. Por causa disto, a salvação é inteiramente obra da graça. Não é realizada simplesmente porque alguns poderes da graça ficam à disposição do homem; é porque o próprio Deus que o faz, opera diretamente através de seu Espírito. Na teologia de Lutero, a graça não é delineada em primeiro lugar no contexto da ausência da bondade natural, mas da ira de Deus, que condena o homem por causa do pecado. A única base da salvação é o segredo da expiação revelada no evangelho de Cristo. A vontade divina da graça é combinada com a onipotência de Deus e é portanto a única fonte da fé que aceita as promessas de Deus - como acontece com todo o bem que se encontra no homem.
A relação entre a graça e a onipotência de Deus forneceu a base para o conceito de predestinação de Lutero, que foi amplamente proposto em seu livro De Servo arbítrio. O homem não está livre e é totalmente incapaz de contribuir para sua própria salvação; Deus, por seu turno, é aquele que faz tudo em tudo, e com inalterável força impele tudo o que acontece, tanto o bem como o mal. Lutero chega a a dizer que Deus é a fonte do mal? Sim, encarando-se o problema de certo ponto de vista, pois nada ocorre sem sua vontade e sem sua cooperação ativa. Ele é a força ativa e propulsora em todas as coisas. Mas o fato que o mal acontece não depende de Deus e sim da cooperação de instrumentos pecaminosos. Para ilustrar este ponto, Lutero citava o caso do carpinteiro que tinha de trabalhar com um machado de má qualidade; os resultados eram insatisfatórios, embora ele fosse um bom carpinteiro. O problema mais difícil surge quando essa idéia da onipotência de Deus é associada à doutrina da graça.
Se a resposta à questão da salvação ou condenação do homem reside no poder e decreto de Deus, por que Deus não faz com que todos os homens sejam salvos? A culpa pelas almas perdidas não recairá, porventura, sobre o próprio Deus, que em sua onipotência permitiu que os homens se tornem vitimas da condenação? Lutero respondeu estas questões difíceis da seguinte maneira:
Deve-se distinguir entre o que é verdadeiro para o Deus oculto e o que Deus revelou em sua Palavra. Que o onipotente Deus impele e efetua mesmo o mal é característica do Deus oculto (Deus absconditus). Mas o evangelho faz ver com clareza, por outro lado, que Deus oferece sua graça a todos e que Deus quer que todos os homens sejam salvos. Somos intimados a nos atermos a esta revelação e não a tentarmos perscrutar arrogantemente a oculta e inescrutável majestade divina.
A condenação atinge o homem como castigo justo por seu pecado e, portanto, é consequência da justiça de Deus. Mas se a salvação e a condenação estão completamente nas mãos de Deus, então a questão é: Por que Deus não altera a vontade dos que se perdem? Esta questão não pode ser respondida; a resposta não foi revelada. Lutero, neste contexto, distingue entre a luz da natureza, a luz da graça, e a luz da glória. Há coisas que só podem ser entendidas à luz da graça, como por exemplo - por que os bons sofrem enquanto que os maus prosperam? Tal questão não pode ser respondida apenas à luz da natureza. Da mesma maneira, há coisas que não são evidentes à luz da fé ou da graça mas que serão entendidas à luz da glória. O mistério da predestinação está incluído nesta categoria. O fato que é perfeitamente justo para Deus permitir que algumas pessoas sofram a condenação só será entendido na eternidade.
Retirado do Livro: História da Teologia
Bengt Häglund - Concórdia Editora - Pág.: 197 a 199.
Lutero entendeu o conceito de graça no seu sentido literal. Para ele significava o favor de Deus ou amor de Deus ativo em benefício da salvação do homem. Diversamente dos escolásticos, não concebia a graça como qualidade infusa que elevava a bondade natural do homem a um nível sobrenatural e facilitava a prática das virtudes. O homem nada mais é que pecado, e inimizade contra Deus. Por causa disto, a salvação é inteiramente obra da graça. Não é realizada simplesmente porque alguns poderes da graça ficam à disposição do homem; é porque o próprio Deus que o faz, opera diretamente através de seu Espírito. Na teologia de Lutero, a graça não é delineada em primeiro lugar no contexto da ausência da bondade natural, mas da ira de Deus, que condena o homem por causa do pecado. A única base da salvação é o segredo da expiação revelada no evangelho de Cristo. A vontade divina da graça é combinada com a onipotência de Deus e é portanto a única fonte da fé que aceita as promessas de Deus - como acontece com todo o bem que se encontra no homem.
A relação entre a graça e a onipotência de Deus forneceu a base para o conceito de predestinação de Lutero, que foi amplamente proposto em seu livro De Servo arbítrio. O homem não está livre e é totalmente incapaz de contribuir para sua própria salvação; Deus, por seu turno, é aquele que faz tudo em tudo, e com inalterável força impele tudo o que acontece, tanto o bem como o mal. Lutero chega a a dizer que Deus é a fonte do mal? Sim, encarando-se o problema de certo ponto de vista, pois nada ocorre sem sua vontade e sem sua cooperação ativa. Ele é a força ativa e propulsora em todas as coisas. Mas o fato que o mal acontece não depende de Deus e sim da cooperação de instrumentos pecaminosos. Para ilustrar este ponto, Lutero citava o caso do carpinteiro que tinha de trabalhar com um machado de má qualidade; os resultados eram insatisfatórios, embora ele fosse um bom carpinteiro. O problema mais difícil surge quando essa idéia da onipotência de Deus é associada à doutrina da graça.
Se a resposta à questão da salvação ou condenação do homem reside no poder e decreto de Deus, por que Deus não faz com que todos os homens sejam salvos? A culpa pelas almas perdidas não recairá, porventura, sobre o próprio Deus, que em sua onipotência permitiu que os homens se tornem vitimas da condenação? Lutero respondeu estas questões difíceis da seguinte maneira:
Deve-se distinguir entre o que é verdadeiro para o Deus oculto e o que Deus revelou em sua Palavra. Que o onipotente Deus impele e efetua mesmo o mal é característica do Deus oculto (Deus absconditus). Mas o evangelho faz ver com clareza, por outro lado, que Deus oferece sua graça a todos e que Deus quer que todos os homens sejam salvos. Somos intimados a nos atermos a esta revelação e não a tentarmos perscrutar arrogantemente a oculta e inescrutável majestade divina.
A condenação atinge o homem como castigo justo por seu pecado e, portanto, é consequência da justiça de Deus. Mas se a salvação e a condenação estão completamente nas mãos de Deus, então a questão é: Por que Deus não altera a vontade dos que se perdem? Esta questão não pode ser respondida; a resposta não foi revelada. Lutero, neste contexto, distingue entre a luz da natureza, a luz da graça, e a luz da glória. Há coisas que só podem ser entendidas à luz da graça, como por exemplo - por que os bons sofrem enquanto que os maus prosperam? Tal questão não pode ser respondida apenas à luz da natureza. Da mesma maneira, há coisas que não são evidentes à luz da fé ou da graça mas que serão entendidas à luz da glória. O mistério da predestinação está incluído nesta categoria. O fato que é perfeitamente justo para Deus permitir que algumas pessoas sofram a condenação só será entendido na eternidade.
Retirado do Livro: História da Teologia
Bengt Häglund - Concórdia Editora - Pág.: 197 a 199.
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