No seio da igreja encarregada de anunciar as boas novas, um indivíduo sai da massa para testemunhar perante a comunidade a redenção e salvação do homem realizada em Cristo. Juntamente com o problema da fidelidade doutrinária que acabamos de falar, se coloca aqui o da legitimidade deste ato individual. À exceção do ofício do apóstolo, não está sublinhada, particularmente no Novo Testamento, a função do pregador. Não podemos deduzir nenhuma doutrina sobre esta função a partir das indicações que se nos dão sobre aqueles que foram chamados pelos apóstolos para este ofício e reconhecidos pela comunidade.
Quanto a função apostólica, fica ligada à fundação e existência da igreja. Em Mt. 16.18-19 (cf. MT. 18.15-20), vê-se que a igreja está instituída numa ordem determinada: Pedro é o representante dos apóstolos e a comunidade se distingue do apostolado.
Se considerarmos agora a igreja, tal como existe a partir do período apostólico, veremos que a ecclesia una, sancta é, enquanto una , às vezes, ecclesia docens e ecclesia audiens. Onde há igreja sempre se dá esta situação. Não se repete o que se deu a princípio, pois a instituição do apostolado só aconteceu uma vez. Depois dos apóstolos, os homens chamados para esta missão devem continuar fazendo o mesmo que os apóstolos e, na medida em que a igreja é o corpo de Cristo, o pregador é, de certa maneira, sucessor dos apóstolos, vigário de Cristo. A pregação do verbo divino e a igreja constitui uma só coisa, pois " a Palavra de Deus não pode existir sem o povo de Deus" (Lutero).
Depois dos apóstolos o pregador, como ministro de segunda categoria, realiza numa determinada comunidade o que os apóstolos fizeram para a igreja inteira. Em vista desta investidura como vigário de Cristo realizada pelo próprio Deus, a problemática sobre este homem revestido deste cargo é secundária. O verdadeiro problema é saber se a igreja é verdadeiramente a igreja de Jesus Cristo e se, quando um homem anuncia a Palavra e outro a escuta, a própria Palavra de Deus é ouvida e recebida pela ação do Espírito Santo.
"O evangelho tem de ser pregado sinceramente, pois este é o reino de Cristo. Ele é o verbo, com a ação do Espírito Santo, para que os ouvintes, sejam ensinados" (Lutero, W.A. XXV, 97).
Todos os critérios que pudéssemos indicar em concreto acerca de um ministério autêntico são relativos, pois somente podem ser critérios humanos. todavia, retenhamos quatro destes critérios, dos que se pode fazer depender, a partir de um ponto de vista humano, a legitimidade da função.
Quanto a função apostólica, fica ligada à fundação e existência da igreja. Em Mt. 16.18-19 (cf. MT. 18.15-20), vê-se que a igreja está instituída numa ordem determinada: Pedro é o representante dos apóstolos e a comunidade se distingue do apostolado.
Se considerarmos agora a igreja, tal como existe a partir do período apostólico, veremos que a ecclesia una, sancta é, enquanto una , às vezes, ecclesia docens e ecclesia audiens. Onde há igreja sempre se dá esta situação. Não se repete o que se deu a princípio, pois a instituição do apostolado só aconteceu uma vez. Depois dos apóstolos, os homens chamados para esta missão devem continuar fazendo o mesmo que os apóstolos e, na medida em que a igreja é o corpo de Cristo, o pregador é, de certa maneira, sucessor dos apóstolos, vigário de Cristo. A pregação do verbo divino e a igreja constitui uma só coisa, pois " a Palavra de Deus não pode existir sem o povo de Deus" (Lutero).
Depois dos apóstolos o pregador, como ministro de segunda categoria, realiza numa determinada comunidade o que os apóstolos fizeram para a igreja inteira. Em vista desta investidura como vigário de Cristo realizada pelo próprio Deus, a problemática sobre este homem revestido deste cargo é secundária. O verdadeiro problema é saber se a igreja é verdadeiramente a igreja de Jesus Cristo e se, quando um homem anuncia a Palavra e outro a escuta, a própria Palavra de Deus é ouvida e recebida pela ação do Espírito Santo.
"O evangelho tem de ser pregado sinceramente, pois este é o reino de Cristo. Ele é o verbo, com a ação do Espírito Santo, para que os ouvintes, sejam ensinados" (Lutero, W.A. XXV, 97).
Todos os critérios que pudéssemos indicar em concreto acerca de um ministério autêntico são relativos, pois somente podem ser critérios humanos. todavia, retenhamos quatro destes critérios, dos que se pode fazer depender, a partir de um ponto de vista humano, a legitimidade da função.
1) O pregador deve sentir-se interiormente chamado. Conhecer a necessidade da vocação e aderir-se a ela de todo o coração. E, todavia, a "impossibilidade de fazer outra coisa" implica muitos problemas. Por exemplo, este: não seria talvez a satisfação de um desejo próprio, essa pretendida exigência interior? Notemos que a chamada interior, que cremos reconhecer, somente é decisiva quando não procede nem de nosso saber, nem de nosso sentimento, mas desta voz imperativa que é a de Deus.
2) Os textos relativos aos bispos e aos diáconos nas cartas pastorais (1 TM. 3.1-1; 3.8-12; 2 Tm.4.1; 4.5-9) Contém alguns catálogos helênicos de virtudes e de ordens concernentes a quem assume a função de pregador. "Homem irreprovável" não deve comprometer esta função como um modo de vida contrário à moral e aos costumes vigentes. Seu modo de atuar não deve ser demasiado estranho nem depender em excesso das contingências humanas, demasiado humanas deste mundo, pois não deve atrair a atenção sobre sua pessoa de uma maneira inútil para não desviar a atenção do evangelho. Estas recomendações éticas têm evidentemente uma finalidade de recordar que o servo da Palavra assume seu cargo diante da lei de Deus. Porém se se percebe que estas leis emanam da lei de Deus, o homem deve reconhecer que falha constantemente. Só pode apresentar-se diante de Deus porque está justificado em Cristo pela fé.
3)Por outro lado, nas cartas pastorais, se requer sempre do pregador que seja competente (1 Tm. 3.2; 2 Tm. 2.24). Segundo o costume da igreja, entendemos por isto a cultura científica dos teólogos. O pregador não tem o direito de amparar-se preguiçosamente no Espírito Santo para os assuntos de seu cargo. Com toda modéstia e serenidade, deve trabalhar e lutar para apresentar corretamente a Palavra, sabendo perfeitamente que o ensino correto (recte docere) só pode ser realizado pelo Espírito Santo. Por isso, a igreja, se tem consciência de suas responsabilidades, não pode tolerar que qualquer um tenha o direito de anunciar a Palavra sem cultura teológica. Todavia, não esqueçamos que a verdadeira pregação nos ensina o Espírito Santo, já que a cultura teológica está submetida a Ele.
4) Como temos notado, o pregador tem uma posição diferente da dos apóstolos: o posto que ocupa, o ocupa por vontade da comunidade. A função que ocupa pertence à igreja (eclesia). Vem da comunidade e exerce-se na comunidade. Todavia, o fato de ser chamado por uma comunidade não impede que ele deva ter a chamada de Deus.
Acabamos de recordar quatro critérios que caracterizam a chamada de Deus. Porém não nos compete fixar os limites desta chamada. É Deus quem funda a igreja e é Ele quem institui o ministério e o designa àquele que deve cumpri-lo. Atua assim onde e quando quer. Pois o fato é que este homem deve sempre responder aos quatro critérios que emanam desta chamada de Deus a qual constitui para ele o problema fundamental. Esta chamada é a que dá todo seu peso a estes critérios humanos. Dá-lhes seu peso e ao mesmo tempo sublinha sua relatividade. Sobre este problema fundamental não há nada que distinguir, só podemos aceitá-lo e secundá-lo, assumindo o ministério com as exigências que implica. Desta maneira, por nossa ação obediente, a revelação e a igreja encarregada de anunciar a Palavra, tornam-se visíveis.
Quando cumpre o seu ministério neste clima, o homem não busca a satisfação de seu interesse individual, de suas inclinçações, de suas convicções e de sua vontade própria. Pois, ainda que sempre tenha algo disto, é necessário que, em sua ação, apareça esta realidade: Deus falou e fala. Ali onde se cumpre esta subordinação, da vontade e da ação humana à vontade e ação de Deus, há pregação cristã legítima.
Fidelidade apostólica da pregação! A firme esperança do ouvinte se consiste em ouvir falar da grande obra, a cujo serviço, encontra-se o pregador que é só um homem com sua natureza e condições. Pois bem, o ato que sempre realiza e problemático e até, em certo sentido, impossível. Pois nos encontramos diante deste fato: Deus interviu no plano humano por meio de um homem, apesar das debilidades inerentes à natureza humana. A "fidelidade apostólica da pregação" significa para o pregador que ele é consciente das debilidades inerentes à sua ação. Porém não se deixa paralisar por sua debilidade, mas apóia-se sobre esta realidade: Deus se revelou. Sabe que a vontade divina, que se deu a conhecer e que atua no plano humano, cobrirá sua debilidade e sua miséria, conferirá à sua ação uma qualidade que não pode dar-lhe por si mesmo. Vivendo do perdão de Deus, realizará seu trabalho simplesmente na obediência, sem se deixar amedrontar, porque sabe que Deus o tem ordenado.
Ainda é necessário assinalar que esta fidelidade apostólica da pregação não deve ser caracterizada por um único critério a partir do ponto de vista da psicologia, tanto em relação ao pregador como em relação ao ouvinte. A simplicidade ou a objetividade poderia ser um indício, ou até o êxito, por exemplo: um despertar da comunidade. Porém estas coisas não podem ser consideradas como critérios válidos. A única coisa que conta é fazer ouvir a Palavra de Deus. E não podemos saber o que ocorre neste momento, porque o efeito que produz esta Palavra depende de Deus. Por isso, nos remetemos a Ele e cremos nEle e no que Ele faz.
Fazíamos notar mais acima que a igreja deve ser fundada sempre de novo; cria-se continuamente pelo anúncio e pela audição da Palavra. Desta maneira, igreja-instituição é uma espera da igreja; avança pelo caminho no qual se produz o acontecimento que cria a igreja.
Devemos ver as coisas na mesma perspectiva em relação ao homem destacado do conjunto da comunidade, com vistas a exercer nela um ministério particular. Este ato recebe sua eficácia da vocação dirigida por Deus. Por esta razão, a ordenação não é um ato de jurisdição eclesiástica, mas uma referência à chamada de Deus. É necessário, naturalmente, que aquele que é ordenado receba a Palavra de Deus que se expressa na ordenação. Palavra que deve receber sempre de novo em seu ministério.
A nomeação não é um problema relevante da teologia, senão do usus eclesiástico. Não há como dizer que por de trás desta vocação, em sentido restrito, deveria sempre existir a plena vocação de Deus.
Desta forma, concernente à direção e ordem da igreja, deveríamos ter em conta os quatro critérios dos quais temos falado. A igreja não deve tolerar a pretensão de alguém que atribua a si uma função que não responda a estes critérios. Frequentemente, junto com a vocação ordinária, existe sempre a possibilidade de uma vocação extraordinária. Deus não está sujeito à ordenação da igreja; pode chamar um homem para pregar a Palavra, à margem da organização eclesiástica, sendo que a vocação de tal homem deverá ser examinada e apreciada pela igreja no que toca a fidelidade escriturística.
Quando cumpre o seu ministério neste clima, o homem não busca a satisfação de seu interesse individual, de suas inclinçações, de suas convicções e de sua vontade própria. Pois, ainda que sempre tenha algo disto, é necessário que, em sua ação, apareça esta realidade: Deus falou e fala. Ali onde se cumpre esta subordinação, da vontade e da ação humana à vontade e ação de Deus, há pregação cristã legítima.
Fidelidade apostólica da pregação! A firme esperança do ouvinte se consiste em ouvir falar da grande obra, a cujo serviço, encontra-se o pregador que é só um homem com sua natureza e condições. Pois bem, o ato que sempre realiza e problemático e até, em certo sentido, impossível. Pois nos encontramos diante deste fato: Deus interviu no plano humano por meio de um homem, apesar das debilidades inerentes à natureza humana. A "fidelidade apostólica da pregação" significa para o pregador que ele é consciente das debilidades inerentes à sua ação. Porém não se deixa paralisar por sua debilidade, mas apóia-se sobre esta realidade: Deus se revelou. Sabe que a vontade divina, que se deu a conhecer e que atua no plano humano, cobrirá sua debilidade e sua miséria, conferirá à sua ação uma qualidade que não pode dar-lhe por si mesmo. Vivendo do perdão de Deus, realizará seu trabalho simplesmente na obediência, sem se deixar amedrontar, porque sabe que Deus o tem ordenado.
Ainda é necessário assinalar que esta fidelidade apostólica da pregação não deve ser caracterizada por um único critério a partir do ponto de vista da psicologia, tanto em relação ao pregador como em relação ao ouvinte. A simplicidade ou a objetividade poderia ser um indício, ou até o êxito, por exemplo: um despertar da comunidade. Porém estas coisas não podem ser consideradas como critérios válidos. A única coisa que conta é fazer ouvir a Palavra de Deus. E não podemos saber o que ocorre neste momento, porque o efeito que produz esta Palavra depende de Deus. Por isso, nos remetemos a Ele e cremos nEle e no que Ele faz.
Fazíamos notar mais acima que a igreja deve ser fundada sempre de novo; cria-se continuamente pelo anúncio e pela audição da Palavra. Desta maneira, igreja-instituição é uma espera da igreja; avança pelo caminho no qual se produz o acontecimento que cria a igreja.
Devemos ver as coisas na mesma perspectiva em relação ao homem destacado do conjunto da comunidade, com vistas a exercer nela um ministério particular. Este ato recebe sua eficácia da vocação dirigida por Deus. Por esta razão, a ordenação não é um ato de jurisdição eclesiástica, mas uma referência à chamada de Deus. É necessário, naturalmente, que aquele que é ordenado receba a Palavra de Deus que se expressa na ordenação. Palavra que deve receber sempre de novo em seu ministério.
A nomeação não é um problema relevante da teologia, senão do usus eclesiástico. Não há como dizer que por de trás desta vocação, em sentido restrito, deveria sempre existir a plena vocação de Deus.
Desta forma, concernente à direção e ordem da igreja, deveríamos ter em conta os quatro critérios dos quais temos falado. A igreja não deve tolerar a pretensão de alguém que atribua a si uma função que não responda a estes critérios. Frequentemente, junto com a vocação ordinária, existe sempre a possibilidade de uma vocação extraordinária. Deus não está sujeito à ordenação da igreja; pode chamar um homem para pregar a Palavra, à margem da organização eclesiástica, sendo que a vocação de tal homem deverá ser examinada e apreciada pela igreja no que toca a fidelidade escriturística.
Retirado do Livro: A Proclamação do Evangelho
Karl Barth - Fonte Editorial - Pág.: 36 a 42
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